A Estenose Aórtica (EAO) é a valvopatia aórtica adquirida mais frequente, com presença cerca de 4,5% da população acima de 75 anos. Em adultos com EAO, a obstrução da via de saída do VE ocorre de forma lenta e gradual, com sintomas aparecendo geralmente a partir da 6ª década de vida. As principais causas de estenose aórtica adquirida são a degenerativa calcífica e a febre reumática.
Degeneração fibrocalcífica: a distribuição e a quantidade de calcificação são importantes de serem registradas uma vez que sugerem a etiologia e impactam o prognóstico. Em alguns casos, não é possível definir o número de válvulas devido ao alto grau de calcificação. Podem ser achados associado a calcificação no anel mitral e no arco aórtico.
Sequela reumática: O espessamento e fusão dos folhetos afetam as extremidades predominantemente, causando o formato de válvula em cúpula. Na maioria dos casos há associação da doença reumática mitral.
Na fisiopatologia da EAO, o débito cardíaco é mantido à custa de hipertrofia ventricular esquerda (HVE) concêntrica para vencer o alto gradiente de pressão através da valva aórtica estenosada. Uma vez sintomáticos, os pacientes apresentam piora significativa do prognóstico, com sobrevida média de 2 a 5 anos e aumento significativo do risco de morte súbita.
Os estágios da estenose aórtica baseiam-se em critérios ecocardiográficos que levam em consideração a anatomia valvar, a hemodinâmica valvar e as consequências da obstrução valvar sobre o VE, correlacionando com os sintomas do paciente.
A gravidade da estenose aórtica é avaliada de acordo com os seguintes critérios: gradientes sistólicos máximo e médio, área valvar aórtica, velocidade máxima e relação entre as velocidades da via de saída do ventrículo esquerdo (VSVE) e valva aórtica (VAO).
Os parâmetros mais importantes para o clínico avaliar a gravidade da EAO são: gradiente sistólico médio, velocidade máxima (velocidade de pico) e área valvar aórtica.
Sabe-se que a velocidade de fluxo através de um orifício estenótico está diretamente relacionada com o gradiente de pressão como descrito pela equação de Bernoulli. A estimativa da área valvar aórtica pela ecocardiografia é realizada baseando-se no princípio da conservação da massa, que determina que o fluxo de sangue que passa através da via de saída do ventrículo esquerdo é o mesmo que passa através da valva aórtica.
Vários estudos mostram que a determinação dos gradientes e da área pela ecocardiografia é altamente precisa sendo comparável com medidas invasivas. Ressalta-se que a medida do gradiente médio pelo Doppler apresenta melhor correlação com o gradiente médio obtido pelo cateterismo cardíaco, pois ambos mostram diferenças de pressão durante a ejeção ventricular.
A área valva aórtica pode ser calculada pela equação de continuidade: exige precisão do ecocardiografista nas medidas pelo Doppler contínuo e Doppler pulsátil
A relação das velocidades (DVI) também outro parâmetro a ser utilizado, dividindo-se a velocidade máxima na VSVE do ventrículo esquerdo ou VTI pela velocidade máxima da valva aórtica ou VTI.
Parâmetro | Medida |
Gradiente sistólico médio | Acima de 40 mmHg |
Velocidade de pico do jato | Maior que 4 m/s |
Área valvar | Menor que 1.0 cm2 |
Índice de Velocidades (DVI) | Menor que 0.25 |
Tabela 1. Parâmetros ecocardiográficos que indicam Estenose Aórtica Importante
Importante que tanto ecocardiografistas quanto cardiologistas clínicos tenham noção que tais medidas estejam bem determinadas nos laudos. Desta forma, colabora para uma melhor decisão clínica de quanto indicar tratamento intervencionista num paciente cada vez mais comum nos Ambulatórios de Cardiologia.
Referências:
Bispo IGA, Lloret RR, Abreu BNA, Guimarães HP, Jardim CAPJ, Jatene IB.Guia Prático de Cardiologia HCor. Editora Atheneu, Rio de Janeiro, 2017
Nishimura RA, Otto CM, Bonow RO, Carabello BA, Erwin JP 3rd, Guyton RA, et al; ACC/AHA Task Force Members.2014 AHA/ACC guideline for the management of patients with valvular heart disease: a report of the American College of Cardiology/ American Heart Association Task Force on Practice Guidelines. Circulation. 2014;129(23):e521-e643.
Pinto IMP,Smanio WM, Mathias Jr W. O Coração do Idoso. Fleury. Editora Manole 2017
Sobre o autor:
Dr. Irving Gabriel Araújo Bispo
Título de Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileiro de Cardiologia.
Título de Especialista na área de Atuação de Ecocardiografia pelo Departamento de Imagem Cardiovascular/ Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Pós Graduado em Docência em Ciências da Saúde pela Faculdade UNYLEYA.
Mestre em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
Professor de Cardiologia pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS).
Co-editor da página Questões em Cardiologia @questoesemcardiologia
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