A noradrenalina (norepinefrina) é amplamente utilizada em situações de choque séptico e outras formas de choque distributivo para aumentar a pressão arterial média (PAM) e melhorar a perfusão tecidual. A administração de noradrenalina é geralmente recomendada através de um cateter venoso central (CVC) devido ao risco de extravasamento e consequente lesão tecidual isquêmica. No entanto, estudos recentes têm investigado a viabilidade e segurança da administração periférica de noradrenalina.
Situações de Uso:
A noradrenalina é indicada principalmente em casos de choque séptico, onde é o vasopressor de escolha para restaurar a PAM e a perfusão de órgãos vitais.[1] Também pode ser utilizada em outras formas de choque distributivo, como o choque anafilático e o choque neurogênico.
Administração:
A administração de noradrenalina é tradicionalmente feita através de um CVC para minimizar o risco de extravasamento e lesão tecidual. No entanto, a administração periférica tem sido explorada como uma alternativa viável em situações onde a inserção de um CVC pode ser demorada ou complicada.
Administração Periférica:
Estudos recentes sugerem que a administração periférica de noradrenalina pode ser segura se realizada sob protocolos rigorosos. Por exemplo, um estudo prospectivo observacional mostrou que a administração periférica de noradrenalina evitou a inserção de CVC em 51,6% dos pacientes, com uma taxa de extravasamento de 75,8 eventos por 1.000 dias de infusão, a maioria sem lesão tecidual significativa.[2] Outro estudo observacional no departamento de emergência relatou uma taxa de extravasamento de 4,5%, sem lesões subsequentes.[3] Além disso, um estudo multicêntrico prospectivo observou uma taxa de extravasamento de 2,3% durante a administração perioperatória, sem casos de necrose tecidual.[4]
Duração da Administração Periférica:
A duração da administração periférica de noradrenalina deve ser limitada. No estudo de Lampin et al., a noradrenalina foi administrada via acesso venoso periférico ou intraósseo por uma mediana de 3 horas sem efeitos adversos significativos.[1] Em geral, a administração periférica é considerada uma medida temporária até que um CVC possa ser inserido de forma segura.
Em resumo, a noradrenalina deve ser utilizada em situações de choque séptico e outras formas de choque distributivo, preferencialmente através de um CVC. No entanto, a administração periférica pode ser uma alternativa viável e segura por um período limitado, desde que protocolos rigorosos sejam seguidos para monitorar e minimizar o risco de extravasamento e lesão tecidual.
Diluição:
A noradrenalina deve ser, preferencialmente, diluída em solução de dextrose (soro glicosado) para reduzir a redução de potência que pode ocorrer com a oxidação. Existem diversas formas de diluir a noradrenalina e sempre devemos buscar o padrão utilizado em seu hospital. No Rio de Janeiro, a grande maioria dos hospitais utiliza a seguinte diluição:
Noradrenalina 20ml + Soro Glicosado 5% 80ml EV contínl)ua (200mcg/m
Dose:
A dose a ser utilizada deve variar de 0,01 a 3mcg/kg/min
Quer aprender a calcular a dose de noradrenalina em mcg/kg/min e nunca mais passar a vergonha de falar que seu doente está usando nora a 3ml/h? Veja o video abaixo!
Referências:
Noradrenaline Use for Septic Shock in Children: Doses, Routes of Administration and Complications. Lampin ME, Rousseaux J, Botte A, et al. Acta Paediatrica (Oslo, Norway : 1992). 2012;101(9):e426-30. doi:10.1111/j.1651-2227.2012.02725.x.
Peripheral Administration of Norepinephrine: A Prospective Observational Study. Yerke JR, Mireles-Cabodevila E, Chen AY, et al. Chest. 2024;165(2):348-355. doi:10.1016/j.chest.2023.08.019.New Research
Utilization and Extravasation of Peripheral Norepinephrine in the Emergency Department. Nguyen TT, Surrey A, Barmaan B, et al. The American Journal of Emergency Medicine. 2021;39:55-59. doi:10.1016/j.ajem.2020.01.014.
Adverse Events of Peripherally Administered Norepinephrine During Surgery: A Prospective Multicenter Study. Christensen J, Andersson E, Sjöberg F, et al. Anesthesia and Analgesia. 2024;138(6):1242-1248.
doi:10.1213/ANE.0000000000006806.
Escrito por:
Bruno Ferraz de Oliveira Gomes
Formado em Medicina pela UFRJ em 2007
Título de Especialista em Cardiologia, Medicina Intensiva e Ecocardiografia
Mestre em Engenharia Biomédica - COPPE UFRJ
Doutor em Cardiologia - UFRJ
Fellow da Sociedade Europeia de Cardiologia - FESC
Fundador e Editor-Chefe - Questões em Cardiologia
Médico do Serviço de Cardiologia - HUCFF-UFRJ
Vice-presidente do Departamento de Doença Coronariana - SOCERJ
Vice-presidente do Grupo de Estudos de Coronariopatias e Terapia Intensiva - SBC
Revisor de periódicos - ABC Cardiol, IJCS, Global Heart e ESC Heart Failure
Um dos autores da diretriz de Síndrome Coronariana sem Supra de ST da SBC 2021
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