Paciente de 80 anos, interna no hospital com quadro de febre nos últimos 4 dias associado à queda do estado geral. Nega tosse, disúria ou outros sintomas. Exame físico: regular estado geral, febril, hipocorada 2+/4+, desidratada +/4+, hemorragia conjuntival em olho direito. PA 112x74mmHg FC 112bpm SpO2 91% em ar ambiente FR 26irpm
Ausculta pulmonar revelou crepitações bibasais. Exame cardiológico revelou sopro sistólico 3+/6+ com irradiação para dorso. Presença de lesões eritematosas puntiformes na palma das mãos. Traz um ecocardiograma realizado há 1 mês atrás que revelava função sistólica preservada e insuficiência mitral mínima. Colhido hemoculturas na emergência e iniciado tratamento antibiótico empírico. Paciente é internada para investigação e realiza um ecocardiograma (vídeo).
A respeito deste caso, podemos dizer:
A) O diagnóstico definitivo é de endocardite infecciosa pela presença de 1 critério maior (massa oscilante cardíaca presente na valva) e 3 critérios menores (febre, hemorragia conjuntival e lesões de Janeway)
B) O diagnóstico mais provável é de endocardite infecciosa mas devemos aguardar as hemoculturas para definir o diagnóstico definitivo.
C) O diagnóstico mais provável é de endocardite infecciosa mas o ecocardiograma transesofágico é necessário para o diagnóstico definitivo.
D) O diagnóstico definitivo é de endocardite infecciosa pela presença de 2 critérios maiores (massa oscilante cardíaca e regurgitação nova)
E) O diagnóstico mais provável é de endocardite infecciosa pois há a presença apenas de 4 critérios menores (ecocardiograma sugestivo porém sem requisitos definitivos como critério maior, febre, lesões de Janeway e sopro novo)
RESPOSTA:
O diagnóstico de endocardite é feito utilizando os critérios de Duke. Para diagnóstico definitivo, devemos ter 2 critérios maiores ou 1 critério maior e 3 menores ou 5 critérios menores. O diagnóstico definitivo patológico se dá pela demonstração de microorganismos na cultura ou histologia de vegetações removidas por cirurgia, embolectomia ou drenagem de abscesso cardíaco.
CRITÉRIOS MAIORES:
Critérios de hemocultura
- 2 hemoculturas positivas para germes típicos
- Hemoculturas persistentemente positivas para germes típicos coletadas com mais de 12h de intervalo
- 3 ou mais hemoculturas positivas com pelo menos 1h de diferença entre elas
Critérios ecocardiográficos
- Massa oscilante intracardíaca presente na valva ou em seu aparato subvalvar, no caminho de jato regurgitante ou em material implantado, sem justificativa anatômica para tal
- Abscesso miocárdico
- Deiscência parcial de prótese valvar
- Regurgitação valvar nova
CRITÉRIOS MENORES:
- Predisposição cardíaca ou uso de drogas
- Febre
- Fenômenos vasculares, como êmbolos sépticos, infarto pulmonar séptico, aneurisma micótico, hemorragia intracraniana, hemorragia conjuntival, lesões de Janeway
- Fenômenos imunológicos, como gromerulonefrite, nódulos de Osler, manchas de Roth, fator reumatóide
- Culturas positivas sem preencher os requisitos de critério maior
- Ecocardiograma consistente com endocardite porém se preencher requisitos de critério maior.
Com isso, o doente da questão possui 2 critérios maiores (massa oscilante cardíaca e regurgitação nova) e 2 critérios menores (febre, fenômenos vasculares), assim, com critérios suficientes para diagnóstico definitivo de endocardite. Resposta item D: O diagnóstico definitivo é de endocardite infecciosa pela presença de 2 critérios maiores (massa oscilante cardíaca e regurgitação nova)
Comentário por:
BRUNO FERRAZ DE OLIVEIRA GOMES
Médico rotina do Unidade Cardiointensiva do Hospital Barra D'Or
Ecocardiografista do Hospital Barra D'Or
Diretor Administrativo do Departamento de Doença Coronária da SOCERJ
Intensivista no Hospital Federal Cardoso Fontes
Mestrando em Engenharia Biomédica na COPPE/UFRJ
Título de especialista em cardiologia e terapia intensiva